domingo, 28 de fevereiro de 2010

Domingo

A triste coincidência de hoje ser domingo 'talvez' nem seja a tal questão. O problema é que esse é um advérbio de dúvida, e sendo assim, meu sentimento teima em desenvolver uma relação com esse fato, descontruindo toda a boa imagem que eu guardava do dia.
Domingo sempre foi saudável para meu corpo e minha alma. Tudo tardava e o tempo corria. O sono ia até mais tarde, a praia brilhava a partir das 12h, o almoço já era jantar e o jantar quase era segunda-feira. Também servia para adiantar o livro da vez, atualizar a pilha de filmes, navegar pelos sites favoritos. Era resignação, voz suave e toque. Dia de análise, planos e renovação das energias para a semana que chegaria, nova e conhecida. Era multiplicidade, passeio no laguinho e violão na varanda!
Não é difícil, nem estranho, perceber que algo se perdeu no meio do caminho. Afinal, são 2174km de distância entre meu corpo e meu coração. Pra cá veio, com meu corpo, as recordações que fazem meu domingo ficar insosso. E isso se repete até o momento que um vôo de 3h30 transporta a outra parte que lá ficou, e aqui muito me falta. Chega e restaura o antigo sabor, acende o brilho e traz a paz. Mas aí o vôo retorna, separando novamente o que deveria ser conjugado. E, um pouco depois das 20h, torno a me despedir do coração e me conformo com o corpo e as novas recordações. O cérebro volta a reconhecer a famosa melancolia de um domingo chuvoso, onde tudo continua a tardar mas as horas já não correm mais. Elas teimam em se arrastar enquanto a saudade domina a leitura, os filmes, os sons. Não há plano, não há método, nem renascimento. Apenas a repetida revisão das cenas do fim de semana e o desejo de 'que o tempo voe, para que você retorne, pra que eu possa te abraçar e te beijar de novo'.
Trilha: "E a vida é mesmo coisa muito frágil, uma bobagem, uma irrelevância diante da eternidade do amor de quem se ama" [Nando R.]

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